O processo de mixagem é nada mais que usar a técnica a favor do seu julgamento sobre o que é agradável ou não aos seus ouvidos. E analisar uma mixagem é uma fonte interminável de idéias.
As vezes quando aprendemos uma arte, é muito difícil olhar ela como um todo. Por exemplo, enquanto assistem filmes, estudantes de cinema podem analizar o movimento das câmeras, edições, sincronia, luz ou atuação. É difícil para estes estudantes parar de analisar tudo isso e apenas curtir o filme, justamente como eles faziam quando crianças. Para nós que trabalhamos com áudio não é diferente, mas engenheiros de mixagem experientes sabem que é possível trocar o estado da sua escuta musical, escutando a música sem pensar o quão grande é o reverb da caixa, ou o som do kick do bumbo, etc…
Embora seja muito menos agradável analizar os aspectos técnicos de um filme enquanto assistimos, isso pode fazer estudantes ótimos cineastas. Sentar, olhar e aprender como os mestres fizeram. – Simples!
O mesmo vale para a mixagem. Cada música não importa se o som está bom ou ruim é uma aula de mixagem. Esse aprendizado é apenas uma questão de apertar o play e perceber o que foi feito.
A sua biblioteca de músicas está repleta de aulas de mixagem
Temos infinitas coisas para perceber no som enquanto analizamos a mixagem de alguém. E aqui vão algumas sugestões de perguntas para serem feitas a si mesmo durante a audição de uma mixagem.
- O quão alto estão os instrumentos em relação a outros?
- Como os instrumentos estão “paneados” ( PAN )?
- O que diferentes instrumentos causam no espectro de frequências?
- O quão distantes os instrumentos estão longes um do outro?
- Quanta compressão foi aplicada e onde?
- Existe alguma automação?
- Qual o tipo e o tempo do Reverb?
- Os instrumentos estão definidos?
- Quais aspectos da mixagem mudam enquanto a música avança?
Uma rápida demonstração pode ser feita aqui.
Vamos analizar os primeiros 30 segundos da Música do Nirvana ” Smells like teen spirit” Mixada pelo mestre Andy Wallace ( clique aqui para ver uma entrevista com ele )
- A sobra do reverb na guitarra crunch é audível após o primeiro acorde (0:01).
- Tem um ruído estranho de guitarra no lado direito, um pouco antes da batera entrar… (0:05).
- A automação da guitarra quando entra a bateria é bastante perceptível (0:07).
- Enquanto corre o riff, (0:09 – 0:25) o bumbo é mais forte nas notas da cabeça do tempo, que pode ser algo na performance ou feito artificialmente na mixagem.
- Quando em mono, as guitarras perdem um pouco das altas frequências.
- O reverb da caixa muda duas vezes. Existe um antes do segundo 0:09, daí não se escuta mais o reverb até 0:25 onde entra outro reverb.
- A partir do segundo (0:25) todos os bumbos tem o mesmo som, o que poderia ser trigger ou edição.
- Nesse trecho também é possível ouvir o reverb no bumbo
- A bateria está com o pan na visão do público.
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- Mutar um dos canais pode te dar pistas sobre a informação estéreo da música.
- Usando filtros você pode entender como os instrumentos foram equalizados.
- Ouvindo em mono você pode identificar problemas de fase
- Você pode inverter a fase de um dos lados e depois ouvir em mono. Isso vai te dar a diferença entre o L e o R, ficando fácil de perceber os efeitos e ambiência.
Então aproveite para escutar suas músicas favoritas para aprender como foram feitas, e se inspirar com o trabalho de grandes engenheiros de mixagem.
Mãos a obra e bons estudos!
Bibliografia: “Mixing Audio” ed. Focal press